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Crise Mundial: A hora é decisiva para GM e Crysler

Posted in Crise by Blog Juízo Final on 22/02/2009

image4806580gJá foram muitos dias D nessa temporada interminável da crise. Hoje é mais um. As montadoras americanas já tiveram muita ajuda do governo e, mesmo assim, ainda mostram contas difíceis de sustentar. Chegou a hora decisiva mesmo para a General Motors e a Crysler, porque o governo deu uma ajuda, mas com prazo, e hoje ele tem de prestar contas.

Por isso, esse é o momento decisivo para elas, porque as indústrias precisam prestar contas ao governo do dinheiro que receberam. As indústrias automobilísticas estão tentando evitar a concordata, o que eles chamam lá de “Capítulo 11″. Os administradores das empresas acham que, depois que uma empresa admite publicamente que pode falir (que é uma concordata), as compras de carros da marca diminuem ainda mais.

As empresas têm custos altos demais que não sabem como resolver. Um exemplo: a General Motors, que teve US$ 20 bilhões de prejuízo e que pegou US$ 17 bilhões com o governo, não tem como explicar como ela gasta US$ 5 bilhões por ano com contas médicas dos aposentados. Foram concessões feitas no passado para o qual os trabalhadores contribuíam com quantia simbólica para ter plano de saúde depois de aposentado para ele, a mulher ou o marido.

Essa conta tende a ficar cada vez mais cara. Além das montadoras, os bancos americanos também estão com problemas sérios. Agora os economistas estão falando do “plano N” – de nacionalização. Ou melhor, de estatização. Ontem eu falei com Armínio Fraga, que foi presidente do Banco Central brasileiro. Ele acha que os Estados Unidos não podem deixar de considerar essa possibilidade de o governo assumir o controle dos bancos, pelo menos de alguns deles. Segundo ele, a ideologia não pode ser o impedimento para se pensar nisso. Primeiro, porque em alguns bancos talvez seja inevitável. Segundo, porque é por um período temporário.

Vários economistas americanos como Paul Krugman, que ganhou o Prêmio Nobel; ou Nouriel Roubini, que previu essa crise, estão defendendo a estatização de alguns bancos. Aqui, Armínio Fraga diz que os Estados Unidos deveriam fazer o que foi feito no Brasil no Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Fortalecimento do Sistema Financeiro Nacional (Proer): o governo assume, nomeia administradores, os acionistas perdem suas ações e o governo separa o banco bom e vende. Essa é a forma de destravar o crédito e salvar o sistema.

O governo americano está ainda tentando evitar isso. O secretário do Tesouro, Timothy Geithner, deve detalhar esta semana aquele plano, divulgado na semana passada, de compra de ativos podres dos bancos. Bom lembrar que tudo isso é sobre os bancos americanos. Os nossos vão bem e permanecem sólidos.

Montadoras parecem um buraco sem fundo

As montadoras parecem estar num buraco sem fundo. Até agora seus planos de investimento não convenceram ninguém – e elas querem mais dinheiro. Já o plano de estímulo é um bom começo, mas é cedo para dizer que é o começo do fim da crise.

O plano tem alguns defeitos, mas vários méritos. Vamos começar pelas boas notícias: mais de US$ 300 bilhões são de redução de impostos. Há mais de 50 anos os economistas vêm provando que redução de impostos, principalmente para as pessoas, é a forma mais rápida de recuperação econômica.

Outro mérito do plano de estimulo é que ele tem um rumo: vários programas são, ao mesmo tempo, para criar emprego e para transformar a economia americana para os tempos de mudança climática. Não são apenas investimentos em energia solar e energia do vento. Tem também modernização dos prédios públicos para uso de menos energia e obras contra eventos climáticos extremos, como em Nova Orleans.

Mas ainda são tímidas as medidas para proteger os compradores de imóveis. Três milhões de americanos perderam ou vão perder suas casas. E pior: ainda não está resolvido – longe disso – o olho desse furacão, que é a crise financeira. Os bancos continuam com risco de quebrar, e o plano divulgado na semana passada não convenceu.

Em vários países do mundo, os sinais são ruins ainda. Ontem caiu essa ficha de que a turbulência está se espalhando, e isso derrubou Bolsas pelo mundo inteiro, inclusive no Brasil. Há novas frentes da crise. Uma delas é a dos bancos do Leste Europeu, que estão com grandes dificuldades.

Outra frente são países estão entrando em recessão. A Rússia teve uma queda de produção industrial de 18% em janeiro depois da queda de 10% em dezembro. Há quatro meses a Rússia registra queda na produção industrial. Taiwan teve uma queda de 8,5% no PIB do quarto trimestre, como foi divulgado na manhã desta quarta-feira (18). A crise se espalha.

Enquanto isso, no Brasil vêm surgindo sinais de melhora. São sinais isolados, mas são bons. Isso significa que o país não está, infelizmente, numa redoma de vidro, mas aqui há alguns sinais bons nos últimos dias. Ontem o IBGE divulgou vendas do varejo de dezembro. A queda foi pequena para o tamanho da crise. Os bens de menor valor, como roupa e calçados neutralizaram em parte a queda da venda de carros.

O país teve superávit comercial nos primeiros 15 dias de fevereiro e vai fechar o ano com superávit comercial. A produção de carros recuperou em parte, e aqui o mercado é dominado por empresas que não estão em crise lá fora. É bom lembrar isso.

Os bancos estão sólidos e a briga aqui é para que eles emprestem mais barato. O presidente da Federação Brasileira dos Bancos (Febraban), Fábio Barbosa, me disse que o órgão vai trabalhar para derrubar as taxas de juros bancárias. A Selic, que é a taxa básica do Banco Central, deve cair um ponto percentual na reunião do mês que vem.

Fonte: Bom dia Brasil/Míriam leitão